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Procura por ensino técnico profissional cresce 50% em cinco anos

Procura por ensino técnico profissional cresce 50% em cinco anos

Apesar do processo de desindustrialização pelo qual passa o Brasil há cerca de três décadas, as indústrias paulistas continuam a empregar e os jovens que se formaram, assim como os que estão cursando o ensino técnico no eixo industrial, não serão prejudicados. É o que afirma o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial de São Paulo (Senai-SP) e o Centro Estadual de Educação Tecnológica Paula Souza.

Segundo dados do IBGE, no quarto trimestre de 2011, o setor industrial recuou 0,5%, enquanto o de serviços avançou 0,6%. A Pesquisa de Emprego e Desemprego da Região Metropolitana de São Paulo (PED), elaborada pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), aponta queda de 0,3% na indústria paulista neste mesmo período. Ainda assim, especialistas de ambas as escolas de educação profissional dizem não terem sentido impacto na demanda de emprego dos jovens que se formam nos cursos técnicos.
Rosângela Gallardo, do Senai, afirma que desindustrialização não afeta a procura por mão de obra qualificada (Foto: Senai-SP)
Rosângela Gallardo, assessora de comunicação do Senai-SP, afirma que a organização reconhece o recuo do setor industrial, mas que, em contrapartida, as vagas dos cursos técnicos vêm crescendo. “Em São Paulo, não é possível dizer que a desindustrialização esteja afetando os jovens que estão se formando nos cursos técnicos voltados para esse setor. Ao contrário, estamos abrindo mais vagas para conseguir atingir a demanda por mão de obra qualificada.”

Já o coordenador do eixo tecnológico de Indústria e Controle de Processo do Centro Paula Souza, Luiz Saito, reconhece que em setores industriais mais atingidos pela desaceleração, como o têxtil, a empregabilidade de jovens tem sido menor, porém há setores que, mesmo diante do recuo industrial, estão avançando. “Nós temos, atualmente, um grande avanço na mecanização agrícola”, exemplifica o coordenador. Saito explica que em cidades do interior de São Paulo, como Espírito Santo do Pinhal e Matão, os governos municipais estão solicitando a abertura de cursos técnicos na área agrícola que dêem conta de capacitar o aluno para o novo cenário tecnológico que o setor se encontra. “O Centro Paula Souza tem muitas escolas agrícolas que vêm sendo pressionadas para abrirem cursos industriais, porque existe uma demanda de automação agrícola no Brasil. Em Catanduva, por exemplo, há empresas que precisam de técnicos mecânicos para consertar as máquinas usadas na agricultura”, enfatiza o coordenador.

Para alguns economistas, a permanência do Real valorizado e altas taxas de juros, durante anos, são fatores que contribuem com o recuo da indústria. Esses especialistas acreditam que esse processo contribui com o aumento da dependência externa, representado no crescimento de 2,6% em importação, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Por outro lado, há quem defenda o retrocesso industrial como fenômeno natural que sinaliza maturidade econômica, tendo em vista que países desenvolvidos, como Alemanha, EUA e Japão, já passaram por essa fase.

Incentivo ao Ensino Médio Técnico

A política de Integração de Ensino Médio com o Ensino Profissional foi reassumida pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, por meio do decreto 5.154, em 2004. Essas modalidades de ensino haviam sido separadas, em 1996, através da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, implantada na gestão presidencial de Fernando Henrique Cardoso.

Criado em outubro de 2011 pela atual presidenta Dilma Rousseff, o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec), cujas primeiras matrículas se deram neste ano, simbolizou a permanência no incentivo ao ensino profissionalizante. Em julho do mesmo ano, o governador do Estado de São Paulo, Geraldo Alckmin, implantou o Programa Rede Ensino Médio Técnico em parceria com o Centro Paula Souza e com o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo (IFSP).

A procura pela educação profissional, segundo a Secretaria de Educação Profissional e Tecnologia do Ministério da Educação (Setec-MEC), subiu mais de 50% nos últimos cinco anos no Brasil. O Senai registrou, em 2010, 86.143 matrículas no ensino técnico, já em 2011 o número subiu para 149.243, um aumento de 15,4%, segundo dados do Sistema Nacional de Informações da Educação Profissional e Tecnológica (Sistec).

O número de escolas que fornece ensino técnico também aumentou. O Centro Paula Souza possuía, em 1992, 13 escolas. Atualmente, são 203. Já os Institutos Federais de Educação (IFs) receberam 214 unidades nos últimos dez anos.

 

Mudança de paradigma
Para José Faro, o Ensino Médio Técnico quebra o mito do diploma universitário na sociedade brasileira (Foto: João Paulo Brito)
Para o vice-presidente do Sindicato dos Professores do Estado de São Paulo (Sinpro), José Salvador Faro, o incentivo ao ensino médio técnico, através de investimento para a ampliação de sua rede, pode levar a uma mudança de paradigma, no que diz respeito ao modelo da educação superior. “O Ensino Médio Técnico quebra o mito do diploma universitário na sociedade brasileira. Esse mito é uma herança das nossas aristocracias, que pregavam que para você ter um bom desempenho na sociedade você precisa ter um canudo”, afirma Faro, que tem formação em História pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH/USP).

José Salvador Faro, que é também docente dos cursos de graduação em Comunicação na Universidade Metodista de São Paulo (Umesp) e da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), ressalta que a ideia do bacharel no Brasil se incorporou na cultura educacional de forma que as escolas direcionavam os jovens apenas para as universidades. “O ensino profissionalizante tinha uma ‘marca’ de indivíduos de sociedade desqualificada, ‘marca’ herdada da escravidão. Isso porque todo o ofício manual e técnico, que dispensa o uso das letras, é considerado inferior.”

Segundo o professor, foi criado um modelo de profissões tradicionais, como médico, engenheiro e advogado, que condiciona o jovem a esse perfil de educação e o faz desprezar profissões braçais, como o de torneiro mecânico, por exemplo. Seria um desprestígio, acredita Faro, para uma sociedade que foi escravocrata e que elegeu como virtude a elite branca valorizar o ensino técnico.

Faro conclui que, do ponto de vista simbólico, ainda existe o desprestígio para quem opta pela educação profissionalizante ao invés do ensino superior. Porém, o ensino técnico além de dar ao jovem perspectivas profissionais muito positivas diante do cenário nacional mercadológico, que sinaliza falta de mão de obra qualificada, contribui com a redução do impacto negativo que a expansão descontrolada do ensino superior está causando. “A maioria das universidades privadas que temos atualmente não produzem ciência e não formam profissionais de boa qualidade. Se transformaram apenas num mercado de mensalidades que movimenta uma fortuna, além de estarem se internacionalizando, já que empresas estrangeiras as estão comprando.”

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