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Jovem nordestino se interessa mais por votar que o do sudeste

Jovem nordestino se interessa mais por votar que o do sudeste

A pesquisa sobre o perfil do eleitorado brasileiro, divulgada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) no início da semana, revelou um dado no mínimo curioso. O maior percentual de jovens entre 16 e 17 anos que se inscreveram para votar nas eleições municipais de 2012 não está no rico e industrializado sudeste do país, mas na emergente região nordeste. Entre os jovens nordestinos de 16 e 17 anos, 58% se inscreveram para votar; no sudeste, esse percentual ficou em apenas 31%.

Especialistas ouvidos pelo Terra apontam especialmente dois fatores que explicariam essa diferença de participação: um amadurecimento mais rápido dos jovens nordestinos e o desencanto com o cenário político atual no sudeste, que aumentaria o distanciamento da juventude com a política partidária.

“Uma primeira hipótese é de que a juventude do nordeste é prematuramente amadurecida, se preocupa muito com a questão profissional, o mercado de trabalho, a constituição do grupo familiar, e a política é entendida como uma forma de viabilizar uma carreira profissional”, pondera o professor Michel Zaidan, da Universidade Federal de Pernambuco, em entrevista ao Terra.

Ele aponta, entre as causas desse amadurecimento precoce, o número menor de “oportunidades de canalizar energias para atividades lúdicas, sociais, talvez em função do acesso às fontes, então o desafio é muito maior, embora os nordestinos não deixem de ter essas atividades”. Na mesma linha de raciocínio, o acesso facilitado às oportunidades de lazer funcionariam como “fatores de dispersão” dos jovens do sudeste e do sul, que ficaram “mais deslumbrados com a possibilidade da inclusão através do consumo e não da participação política”.

Mídia e individualismo
O consumismo, assim como o individualismo, também é citado por Marcus Ianoni, professor da Universidade Federal Fluminense, como um fator que pode influenciar os jovens a não quererem votar nas regiões sul e sudeste. “Essa sociedade individualista tem a ver com visões neoliberais de que a política só atrapalha o poder aquisitivo, e essa visão neoliberal vai contra a democracia, funciona como uma ditadura da economia”, afirma.

Essa visão, para o professor, geraria um desinteresse pela política, o que ele credita em grande parte à mídia. “A maior presença dos meios de comunicação nessas regiões significa predominância dessa mentalidade imposta pela mídia de que a política só tem corrupção, o que acentua o individualismo que caracteriza esses centros”, argumenta.

Segundo Ianoni, no sudeste o jovem está mais suscetível a “se deixar capturar pela aversão que certos órgãos de imprensa implicam, ao inferir que politica é coisa de ladrão”. “Isso é um lugar comum que não é verdade, falar isso pega mal para os políticos, e jogar a população contra a política é jogar a favor do individualismo e do consumismo, é fazer o jogo dos interesses econômicos, que querem que os jovens pensem mais em si mesmos e no poder aquisitivo que podem ter”, continua.

Políticas públicas
No nordeste, por outro lado, a mídia teria menos poder de persuasão do que a realidade local, que segundo Ianoni sofreria o impacto das políticas do governo federal para os jovens. “O impacto positivo do Reuni, do Bolsa Família, do Primeiro Emprego, isso implica em uma maior motivação para participação no processo eleitoral”, argumenta.

“Os jovens do nordeste têm sofrido mais (que os do sudeste e sul), e consequentemente vão se conscientizando de que sem mudar a natureza do voto, os destinatários desse voto, não se muda as falhas da politica brasileira”, acrescenta Octaciano da Costa Nogueira Filho, professor da Universidade de Brasília. Para ele, “as repercussões dos atos políticos em regiões mais densamente povoadas (da metade sul do País) são muito menores do que no nordeste, onde as carências são muito maiores”.

Majoritariamente, o professor da UnB entende que as diferenças no percentual de jovens eleitores se justificam pelas diferenças entre as regiões, o que faz com que “crenças e atos do eleitorado em país com 135 milhões de votantes seja diferenciado”. Para Filho, os números não indicam “um benefício ou um malefício” para nenhuma das regiões, apenas evidenciam essas distinções locais. “Variáveis de natureza geográfica, econômica e política são absolutamente razoáveis e explicáveis”, acredita.

Na lista de diferenças, Zaidan, da UFPE, levanta algumas questões de preponderância partidária. “Acredito que no sul e no sudeste existe forte apelo dos partidos de centro, como PSDB, PMDB, então para a juventude (política) não é interessante, uma vez que não há nada de novo. O próprio PT entrou nessa vala comum dos partidos da ordem, de competição eleitoral e pragmáticos, que perderam a utopia, o sonho, o que faz com que a juventude se desinteresse”, opina.

“No nordeste, esses partidos não são tão fortes, o que permite que haja uma alternativa de ofertas de representação política, que é mais atraente”, continua o professor pernambucano, lembrando que “têm aparecido caras novas” e citando alguns partidos que “procuram se diferenciar, e não são identificados com a velha esfera pública”. O PV seria um deles, segundo Zaidan, e assim como o Psol e o PSTU comporiam uma lista de legendas que “tendem a se aderir à radicalidade da juventude, que de uma maneira geral não quer votar em partidos de centro, ou os associados com políticos corruptos”, afirma.

As redes sociais também estariam atuando para trazer os jovens para a política. “A juventude se interessa muito por essas redes e muita gente tem usado esses espaços para fazer política, para seduzir os jovens para propostas partidárias, otimizar a internet como forma de angariar apoio: há algo de novo que seduz a juventude”, levanta Zaidan.

Brasília
Quanto a Brasília, onde apenas 12% dos jovens de 16 e 17 anos fizeram o título de eleitor em 2012, o professor pernambucano levanta como hipótese para o desinteresse a proximidade com o centro da política parlamentar nacional. “Os jovens andam muito impressionados com as denúncias de corrupção da política. Curiosamente, essa juventude participa ativamente de movimentos, como houve na deposição do governador. Parece que o apelo para participar das instituições políticas formais não é tão grande quanto dessas organizações para que se proteste contra a política”, compara.

“E é lamentável que essa energia não seja canalizada para a participação politica institucionalizada”, continua, afirmando que as legendas se beneficiariam da participação dos mais novos. “O sangue novo vem dessa juventude, o ardor, a paixão, a radicalidade, a busca de autenticidade. Os jovens revitalizariam, daria uma vida que (os partidos) talvez não tenham mais, e isso poderia encantar outros setores da população”, que também estariam “desiludidos com os rumos da política nacional”, finaliza.

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